Eclipse de mim mesmo
Lá se ia mais
um dia embora. E, aquela sensação de que algo estava faltando veio para
atormentar o crânio ainda quente. As flores fizeram silêncio, os passarinhos tornaram-se
folhas e a coruja tentou convencer de todos os jeitos que ela era a única
atração da noite instaurada.
Lá se ia mais um
dia embora. E, as nuvens aglomeradas escondiam algo. Algo estava bem guardado
para um próximo momento. Algumas estrelas espiavam os terráqueos e depois
sumiam. Impressões, raciocínios e incertezas habitavam em todos os olhares que
contemplavam o céu. Um azul diferente, um céu observador.
Alguém deve ter
pegado os ponteiros do tempo e os transformado em rosas para serem dadas a uma
dama, porque o tal tempo parecia estar desligado, em um sono profundo. Algumas
vozes altivas passavam gorjeando, outras cacarejavam ensurdecedoramente
palpites e conversas sem sentido. E eu?
O que eu era? O que pensava? Será que estava mesmo ali?
Eu era sim, o
dia incompleto que noite se fez, as estrelas envergonhadas, as nuvens
aglomeradas e uma surpresa que estava por vir. Era o som da coruja metida, o
silêncio das flores e as folhas verdes. Era o fruto que eu mesmo comi, e a
escuridão pintada de branco.
O contraste e o
semelhante; o fino e o grosso; o certo e o errado. Eu era o ladrão dos
ponteiros, porém a rosa virou cinzas, pois a dama foi morar em outro coração.
Eu era o fugitivo que traria a surpresa. O maestro que regia a orquestra e a
plateia formada por mim, para ver, mesmo que por um segundo, o eclipse tênue
carimbado na lua, pura, crua e nua, o qual mostraria calmamente o fim do dia,
confirmando que em breve, um novo dia iria nascer.
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